por Edu Vasques 

Todo início de ano somos bombardeados por uma série de papers e estudos que apontam quais serão as tendências daquele período. Tento acompanhar, baixo, leio, posso dizer que até coleciono (afinal, alguns daqueles dados podem ajudar a ratificar um plano ou outro que esteja desenvolvendo). São bacanas. Ajudam a gente a entender um pouco sobre o que as organizações – ou parte delas – estão olhando com certa importância.

Há, entretanto, algumas questões que precisam ser pesadas ao olhar para esses diagnósticos. Sem desmerecer o trabalho de pesquisa e todo o processo que envolve a criação desse tipo de documento, a primeira sensação é que estamos apenas dando novos nomes ao que já tratamos como tendência faz pelo menos uns quatro ou cinco anos.

Isto é, os apontamentos são os mesmos, apenas com textos e nomes diferentes para dar a impressão de que muita coisa vai acontecer. Estamos nos repetindo e nada tão novo ou – como gostam de definir e eu odeio essa palavra – disruptivo de verdade apareceu.

O segundo ponto está relacionado à velocidade. Ainda que essas tendências se repitam – o que pode ser um sinal de que na verdade elas não eram tendências e estão demorando a realmente acontecer ou já se consolidaram e deixaram de ser novidade – o mundo todo se transforma cada vez mais rápido.

Ninguém previa a pandemia e a grande maioria das pessoas – alguns não tiveram essa alternativa – precisaram se adaptar com muita agilidade. Essa nova configuração vai provocar outras grandes mudanças sociais, políticas, econômicas, comportamentais. E será preciso acompanhar de perto, medir, assimilar, refletir sobre tudo o que estamos vendo.

O que eu quero dizer é que mais do que ficar caçando tendências, a gente precisa estruturar e fortalecer a maneira com a qual capturamos as informações, organizamos esses dados e transformamos isso em conhecimento e ação. E essa é a principal questão.

Mesmo com todo o avanço de ferramentas, recursos, metodologias, basta uma conversa com alguns profissionais de empresas – até mesmo grandes – para perceber que isso ainda está muito mal resolvido.

“Falta integração (tecnológica) e conexão (humana)” 

A percepção é de que não há uma estratégia clara e bem definida para lidar com todas as informações e estímulos. Cada vez se acumula mais dados e não se sabe o que fazer efetivamente com eles, o que é relevante extrair, como dar o tratamento adequado – com exceção das Big techs que vivem basicamente disso.

E, neste quesito, a pandemia agravou esse problema. Muita coisa feita às pressas para poder continuar “rodando” vão causar um impacto razoável no médio e longo prazos e, inclusive, determinar erros estratégicos fundamentais que talvez nem permitam voltar atrás. Ou parte do zero ou vai remendando até estourar.

Outra questão é que os profissionais capazes de fazer essas análises em alto nível, ou seja, produzir insights relevantes para os negócios e marcas são escassos e raros. Ou se é muito técnico (como times especialistas em B.I, Data Analytics, IA, etc) ou se distancia em termos de leitura e linguagem (psicólogos, antropólogos, sociólogos possuem uma leitura de mundo muito diferente e, em geral são descartados – mas não deveriam e sinto cada vez mais a necessidade de tê-los por perto, o que enriqueceria bastante as avaliações de cenários).

De toda forma, o que a gente precisa mesmo é acompanhar e, minimamente, tentar sistematizar o conhecimento permanente e ágil. Aprender a fazer leituras com mais profundidade – e não sair lançando coisas que, apesar de bacanas, não passam de modinhas e não agregam em nada aos negócios – no máximo geram boas pautas para o time de relações públicas.

Os mecanismos de mensuração e inteligência vão bem na sua empresa? Ficar refém dos relatórios de pesquisa pode induzir a organização a muitos erros. Ah, um pouco de intuição e humanidade também vão ajudar bastante nessa tarefa de repensar a estratégia corporativa. Afinal, as dinâmicas sociais estão em mutação constante.